Blogagem coletiva... retirei do blog da querida Angela Rios que fez esse resumão...excelente..
O QUE NÓS COMO PROFISSIONAIS DE SAÚDE PODEMOS FAZER
PARA PROMOVER OS DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES NA
GRAVIDEZ E NO PARTO?
“Conheça e respeite as evidências científicas – Evite procedimentos
invasivos, dolorosos e arriscados, a não ser que eles sejam
estritamente indicados. Ajude a promover o direito das mulheres
à sua integridade corporal e a usufruir dos progressos da ciência”
Diniz, CSG, 2003
Um princípio importante para a prática de todos os profissionais da saúde é, em primeiro lugar, não causar dano. Esta ideia adquire importância adicional quando lidamos com recém-nascidos, por não haver quase nenhum dado em longo prazo a respeito da segurança de vários procedimentos. Intervenções de rotina, como a aspiração de vias aéreas ou estômago, usar oxigênio a 100% para reanimação neonatal e clampeamento imediato do cordão umbilical nunca foram baseadas em qualquer evidência clara de que melhoram o cuidado ao recém-nascido ou seus resultados. No entanto, algumas destas práticas estão tão firmemente arraigadas que será necessária uma grande quantidade de pesquisas para mudar tal padrão. Pesquisas recentes começam a identificar algumas práticas mais antigas que não deveriam ter sido abandonadas e algumas práticas atuais que deveriam deixar de ser usadas. De forma a alcançar um nascimento suave e fisiológico e um cuidado ao recém- nascido centrado na família, práticas que podem interferir no vínculo entre a mãe e o bebê devem ser atentamente examinadas. Na maioria das vezes, quanto menos intervenção, melhor.
É necessário fomentar uma atenção qualificada ao parto, já que mais da metade das mortes maternas e neonatais ocorre durante a internação para o parto. Deve-se considerar não apenas a estrutura hospitalar (equipamentos e recursos humanos), mas também o processo assistencial: acompanhamento adequado do trabalho de parto, utilização do partograma, promoção do trabalho de parto fisiológico evitando-se intervenções desnecessárias que interferem na sua evolução (como ocitocina endovenosa de rotina, restrição ao leito, jejum, parto em litotomia, entre outras) e assistência adequada na sala de parto. Destacam-se também a presença do acompanhante; a promoção do contato mãe-bebê imediato após o parto para o bebê saudável, evitando-se intervenções desnecessárias de rotina e que interferem nessa interação nas primeiras horas de vida; estimular o contato pele a pele e o aleitamento materno na primeira hora de vida.
No Brasil, nascem cerca de três milhões de crianças ao ano, das quais 98% em hospitais. Sabe-se que a maioria delas nasce com boa vitalidade; entretanto, manobras de reanimação podem ser necessárias de maneira inesperada. São essenciais o conhecimento e a habilidade em reanimação neonatal para todos os profissionais que atendem RN em sala de parto, mesmo quando se esperam crianças hígidas sem hipóxia ou asfixia ao nascer. O risco de haver necessidade de procedimentos de reanimação é maior quanto menor a idade gestacional e/ou o peso ao nascer. O parto cesário, realizado entre 37 e 39 semanas de gestação, mesmo não havendo fatores de risco antenatais para asfixia, também eleva o risco de necessidade de ventilação do RN.
No intuito de elucidar os parâmetros atuais, foram pontuadas observações sobre a assistência recomendada para a atenção ao recém-nascido a termo e boa vitalidade, baseadas em evidências científicas e publicado por instituições soberanas de atenção à saúde (Organização Mundial de Saúde, Organização Panamericana de Saúde e Ministério da Saúde). Seguem abaixo os tópicos abordados:
AVALIAÇÃO DA VITALIDADE AO NASCER
Imediatamente após o nascimento, a necessidade de reanimação depende da avaliação rápida de quatro situações referentes à vitalidade do concepto, sendo feitas as seguintes perguntas:
Figura 2 – Avaliação da vitalidade ao nascer. Fonte: Ministério da Saúde, 2011
A avaliação da coloração da pele e das mucosas do RN não é mais utilizada para decidir procedimentos na sala de parto. Estudos têm mostrado que a avaliação da cor das extremidades, do tronco e das mucosas é subjetiva e não tem relação com a saturação de oxigênio ao nascimento.12 Além disso, RN com esforço respiratório e FC adequados podem demorar alguns minutos para ficarem rosados. Nos RN que não precisam de procedimentos de reanimação ao nascer, a saturação de oxigênio com um minuto de vida situa-se ao redor de 60-65%, só atingindo valores de 87%-92% no 5º minuto de vida.13
O RN a termo com boa vitalidade deve ser secado e posicionado sobre o abdome da mãe ou ao nível da placenta por, no mínimo, um minuto, até o cordão umbilical parar de pulsar (aproximadamente 3 minutos após o nascimento), para só então realizar-se o clampeamento.
AMBIENTE DO NASCIMENTO
O ambiente adequado é feito em meio a pouca luz, silêncio, massagem nas costas do bebê, que não é dependurado pelos pés e nem recebe a famosa palmada “para abrir os pulmões”. O contato pele a pele imediatamente após o nascimento, em temperatura ambiente de 26ºC, reduz o risco de hipotermia em RN a termo que nascem com respiração espontânea e que não necessitam de ventilação, desde que cobertos com campos pré-aquecidos. Nesse momento, pode-se iniciar a amamentação. Após o clampeamento do cordão, o RN poderá ser mantido sobre o abdome e/ou tórax materno, usando o corpo da mãe como fonte de calor, garantindo-se que o posicionamento da criança permita movimentos respiratórios efetivos.
É garantido por lei o direito a acompanhante da gestante e puérpera durante o trabalho de parto e parto (Lei Federal 11.108) e para o bebê, com garantia de Alojamento Conjunto, inclusive se for necessária a internação do bebê.
Figura 1 – Benefícios da presença do acompanhante escolhido pela mulher.
ASPIRAÇÃO ROTINEIRA
A maioria dos textos obstétricos descreve a limpeza da boca e nariz do recém-nascido com uma seringa de bulbo. Estudos realizados em bebês sadios nascidos a termo concluem que não há benefícios advindos da aspiração de rotina após o nascimento e apoiam o abandono da aspiração como procedimento de rotina.
Também se caracteriza como procedimento de rotina a aspiração gástrica no momento do nascimento, em que uma sonda de aproximadamente 8 mm é introduzida pela boca até o estômago do RN e o conteúdo estomacal é aspirado. Existem poucos estudos conclusivos a este respeito, mas Widstrom estudou o efeito da aspiração gástrica na circulação dos recém-nascidos e no comportamento alimentar posterior. Foram estudados bebês saudáveis nascidos a termo, e concluiu que a aspiração gástrica é prejudicial, provocando alterações na frequência cardíaca e na pressão arterial do recém-nascido sem benefícios relacionados, indicando que não deveria ser usada no atendimento de rotina do neonato.
Na presença de líquido amniótico meconial, fluido ou espesso, o obstetra não deve realizar a aspiração das vias aéreas, pois esse procedimento não diminui a incidência de síndrome de aspiração de mecônio, a necessidade de ventilação mecânica nos RN que desenvolvem pneumonia aspirativa, nem o tempo de oxigenoterapia ou de hospitalização. Para este tipo de assistência, são recomendadas uma sequência de intervenções e avaliações, conforme descrito na publicação "Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde" do Ministério da Saúde, 2011
CESÁREA AGENDADA
Vem sendo registrado aumento da incidência da prematuridade e do baixo peso ao nascer em capitais e cidades de maior porte no País, como o Rio de Janeiro (12%) e Pelotas (16%), o que tem sido fonte de grande preocupação. Os estudos apontam que este aumento está relacionado às taxas crescentes de cesarianas programadas com interrupção indevida da gravidez, sem justificativa médica, tendo como consequência a prematuridade iatrogênica e aumento do risco de morte infantil e perinatal, mesmo entre os RN prematuros tardios com peso adequado ao nascer.
CLAMPEAMENTO DO CORDÃO
Atualmente, não existem orientações formais sobre o tempo para o clampeamento do cordão umbilical. Pinçar o cordão imediatamente após o nascimento resulta numa redução de 20% no volume de sangue para o neonato e uma redução de mais de 50% no volume de glóbulos vermelhos. A literatura recente refuta a ideia de que o clampeamento tardio do cordão cause policitemia sintomática e indica que o clampeamento imediato pode levar à anemia na infância. Vários estudos clínicos randomizados indicaram que mais bebês que experienciaram o clampeamento imediato tiveram anemia na infância, comparados aos bebês que tiveram um clampeamento tardio.
Uma revisão integrada recente da literatura sobre o gerenciamento do cordão nucal encontrou relatos mostrando um aumento nos riscos para o recém-nascido quando o cordão foi clampeado antes da saída dos ombros.
CONTATO PELE-A-PELE
“Para a assistência ao recém-nascido normal, que constitui a maioria das
situações, nada mais deve ser feito além de se enxugar, aquecer, avaliar e entregar à mãe para um contato íntimo e precoce.”
Ministério da Saúde, 2001
Manter o bebê aquecido ao nascimento é parte essencial do manejo imediato do recém- nascido. Recém-nascidos correm o risco de perda de calor ao nascimento por causa de sua grande superfície em relação à sua massa, pouco tecido subcutâneo, e permeabilidade de sua pele à água. O contato pele-a pele pode ocorrer imediatamente após - nascimento e durante a primeira hora de vida. Quando um recém-nascido é colocado pele a pele, a mulher provê calor diretamente ao seu recém-nascido, através da condução. Em geral, o recém-nascido é completamente seco e um cobertor é colocado sobre o bebê e a mãe para prevenir a perda de calor por meio da convecção e evaporação.
Além da manutenção de temperatura, os bebês que tiveram um cuidado pele a pele na primeira hora de vida dormiram por mais horas, passaram mais tempo em estado de quietude, e estavam mais bem organizados às 4 horas de vida.
Os benefícios do contato pele a pele imediato e ao aleitamento durante a primeira hora de vida incluem maior duração da amamentação, mais sentimentos maternos positivos em relação à criação de seu bebê e maiores escores de afetividade materna e vínculo materno.
O contato pele a pele deveria ser considerado uma intervenção primária para prevenir hipotermia neonatal. As maternidades que separam mães e bebês com a intenção de prevenir estresse pelo frio inconscientemente aumentam o risco desse tipo de ocorrência, e ao mesmo tempo privam o par da intimidade e vínculo ao retardar o início da amamentação.
MEDICAMENTOS
ANALGESIA DE PARTO
Existem relatos de que bebês de mães que receberam analgesia de parto, inclusive peridural, têm mais dificuldade para iniciar a amamentação. Um estudo encontrou que mais mulheres que receberam analgesia peridural no parto descreveram que não tinham leite suficiente, quando comparadas a mulheres que não receberam analgesia peridural nas primeiras 12 semanas pós-parto. No entanto, sugere que o vínculo precoce entre mãe e bebê pode ter mais efeito sobre a amamentação do que o tipo de agente analgésico usado durante o parto.
Não foram encontradas diferenças na admissão em UTIs neonatais entre bebês expostos à peridural versus outro tipo de analgesia, ou a nenhuma analgesia no parto , ou ainda em uma comparação entre a peridural e a combinação de uma analgesia peridural- vertebral. A exposição à analgesia materna não parece aumentar o risco de um bebê para admissão a uma UTI neonatal. Porém, os recém-nascidos que não foram expostos a qualquer tipo de agentes analgésicos do parto parecem exibir importantes comportamentos pré-amamentação, necessários ao sucesso do aleitamento, mais precocemente que os recém-nascidos expostos à analgesia, mas os efeitos dos analgésicos sobre o aleitamento e duração da amamentação são obscuros. O impacto em longo prazo da analgesia materna sobre o comportamento neural é incerto.
NITRATO DE PRATA (MÉTODO DE CREDÉ)
Em 1881, para prevenção de oftalmia (conjuntivite) gonocócica (causada pelo gonococo ou Neisseria gonorrhoeae, bactéria que pode ser transmitida da mãe para o bebê no canal do parto, caso ela esteja infectada), iniciou-se o uso do nitrato de prata a 1%. O nitrato de prata causa uma conjuntivite química, levando a uma resposta inflamatória com efeito antibiótico secundário. Ele é instilado no saco conjuntival inferior, e o excesso da medicação é removido com gaze. Não se deve lavar os olhos do bebê logo em seguida. Pode-se retardar o uso da medicação por até uma hora, para evitar a rotura do contato visual precoce entre mãe e filho na sala de parto, já que o nitrato de prata pode diminuir a abertura ocular e inibir a resposta visual.
VITAMINA K
A deficiência neonatal de Vitamina K existe em pelo menos 0,5% de todos os RN. Essa frequência é maior no RN pré-termo e nos pequenos para a idade gestacional com risco de sangramento gastrointestinal ou outro tipo de hemorragia. A administração oral de 2Mg de vitamina K com repetição da dose em esquemas variados têm sido demonstrado ser quase tão eficaz quanto a injeção de 1Mg via intramuscular.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
Brasil. Ministério da Saúde. CPI da Mortalidade Materna – Brasília : Ministério da Saúde, 2001
WHO, 1996. Care in normal birth. A practical guide.
Judith S. Mercer, Debra A. Erickson-Owens, Barbara Graves, Mary Mumford Haley. Práticas baseadas em evidências para a transição de feto a recém-nascido. Rev Tempus Actas Saúde Col // 173
Rattner, D e Trench, B. Humanizando Nascimentos e Partos. São Paulo: Ed. Senac, 2005
Hodnett, E D . Pain and women’s satisfaction with the experience of childbirth: a systematic review. Am J Obstet Gynecol. 2002; 186: S160-S172
Diniz, CSG. O que nós profissionais da saúde podemos fazer para promover os direito humanos das mulheres na gravidez e no parto? Departamento de medicina preventiva. FMUSP, 2003.
Diniz, CSG. Entre a técnica e os direitos humanos: possibilidades e limites da humanização da assistência ao parto. Tese Doutorado FMUSP, 2001
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