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quinta-feira, 27 de março de 2014

Versão Cefálica Externa (VCE) - para bebês pélvicos (sentados)

Texto da Dra. Melania Amorim





 
Bebê Pélvico ou sentado (foto cedida por paciente do Programa GestaVida)


 Cerca de 3% dos bebês chegam ao termo em apresentação pélvica. Embora o parto normal seja possível nesses casos, há um aumento do risco relativo de morbidade e mortalidade perinatal e o prognóstico dos bebês pélvicos, independente da via de parto, é ligeiramente pior do que o de bebês cefálicos. Na revisão sistemática da Cochrane sobre cesariana vs. parto vaginal programado para os casos de apresentação pélvica, a mortalidade perinatal foi de 0,26% e 1,15%, respectivamente.


Bebê sentado (foto cedida por paciente do Programa GestaVida)
Tentando prevenir o nascimento de um bebê em apresentação pélvica, várias alternativas têm sido propostas, desde medidas posturais (exercícios), uso de moxabustão, acupuntura e a versão cefálica externa (VCE).




A versão cefálica externa consiste na manobra de reposicionar o bebê que se encontra em apresentação pélvica, "virando-o" dentro da barriga através de movimentos manuais combinados com pressão no abdome materno. Era um procedimento relativamente comum na Obstetrícia do passado, mas durante as décadas de 70/80 sua popularidade caiu muito entre os obstetras, devido a alguns relatos e séries de caso demonstrando efeitos adversos. É por isso que muitos obstetras, ainda hoje, condenam o procedimento.

No entanto, estudos mais recentes, a partir da década de 90, têm demonstrado as vantagens do procedimento, desde que realizado por pessoas experientes, com avaliação ultrassonográfica prévia, sugerindo-se o uso prévio de tocolíticos (drogas para diminuir a contratilidade uterina) e a monitoração da vitalidade fetal depois do procedimento. Uma revisão de 44 estudos com 7377 pacientes que se submeteram a uma tentativa de VCE evidenciou que a a complicação mais frequentemente relatada foi alteração transitória da frequência cardíaca fetal (em torno de 6%). Complicações menos frequentes foram sangramento vaginal (0,5%), descolamento prematuro da placenta (0,1), cesariana de emergência (0,4%) e mortalidade perinatal (0,16%) (Collaris 2004). Devido ao risco de isoimunização Rh, a profilaxia com imunoglobulina anti-D é recomendada para gestantes Rh-negativas que se submetem ao procedimento.

Duas revisões sistemáticas da Biblioteca Cochrane estão disponíveis abordando a VCE no termo e pré-termo. Na primeira revisão (2009), foram incluídos sete estudos, com 1245 mulheres. Observou-se uma redução significativa dos nascimentos não cefálicos (RR=0,46; IC 95%=0,31 - 0,66) e de operação cesariana (RR=0,63; IC 95% = 0,44 - 0,90), sem diferença significativa nos escores de Apgar, pH do sangue do cordão, admissão em UTI e morte perinatal. A taxa de cesariana foi de 19,4% no grupo submetido a versão e de 29,6% no grupo não submetido ao procedimento.

Chama a atenção que a taxa de cesariana, apesar de se reduzir significativamente com a VCE, ainda persiste relativamente elevada (em torno de 20%) em mulheres submetidas a VCE bem sucedida, quando comparadas com mulheres com bebês em apresentação cefálica espontânea (taxa de cesárea em torno de 6%) em diversos estudos, sugerindo que alguma sutil anormalidade subjacente, do concepto, do cordão ou da anatomia pélvica podem estar associadas à apresentação pélvica persistente no termo. No entanto, como os grandes estudos observacionais sugerem que complicações do procedimento são raras e que a VCE reduz tanto a chance de nascimento não cefálico como de cesariana, os autores da revisão Cochrane sugerem que há fortes razões para o uso clínico da VCE a termo, com as devidas precauções, em qualquer mulher para quem a chance aumentada de um nascimento cefálico supera os riscos do procedimento.

Em outra RS Cochrane avaliando os efeitos da VCE pré-termo (antes de 37 semanas), comparou-se uma política de VCE iniciando-se entre 34 e 35 semanas com a não-realização de VCE ou VCE a termo. Comparada com nenhuma tentativa de VCE, VCE antes do termo reduz o risco de nascimentos não-cefálicos. Comparada com a VCE a termo, iniciar VCE entre 34 e 35 semanas parece ter algum benefício em termos de reduzir a taxa de apresentação não cefálica e cesariana. No entanto, como a metodologia dos estudos incluídos variou bastante e os dados foram insuficientes para avaliar complicações, os autores sugerem que, apesar de essas evidências serem promissoras, não são adequadas para apoiar uma política de iniciar VCE antes do termo. Como os resultados da VCE a termo já estão bem estabelecidos, até que novas pesquisas forneçam evidências mais conclusivas em torno da segurança da VCE antes do termo, recomenda-se que o procedimento seja oferecido depois de 37 semanas de gravidez para mulheres com feto único em apresentação pélvica e sem contraindicações.

As contraindicações para VCE são: gravidez múltipla, malformações fetais graves, vitalidade fetal comprometida ou morte fetal, outra indicação de cesárea independente da apresentação (p.ex. placenta prévia) e membranas rotas. Contraindicações relativas incluem cesárea anterior, restrição do crescimento fetal e sangramento uterino, porém as evidências não são suficientes para proibir a versão nesses casos.

O procedimento para versão cefálica externa é relativamente simples, e pode ou não ser monitorado por ultrassonografia. Alguns métodos podem ser utilizados para aumentar a chance de sucesso da versão, mas o mais comum e que oferece bons resultados é o uso de terbutalina (250mcg SC 15 a 30 minutos antes do procedimento) para diminuir a contratilidade uterina. Quando uma primeira tentativa de versão falha, mesmo com terbutalina, recomenda-se repetir o procedimento sob anestesia raquidiana, que promove o relaxamento da parede abdominal e aumenta as chances de sucesso.



Várias organizações recomendam que a VCE seja oferecida a todas as mulheres com apresentação pélvica a termo, como por exemplo o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), a Royal Dutch Organization for Midwives (KNOV) e a Dutch Society for Obstetrics and Gynaecology (NVOG).

Em suma, apesar de alguns obstetras ainda acreditarem que o procedimento é obsoleto e não deve mais ser adotado, todo um corpo de evidências nos últimos 20 anos tem demonstrado o contrário. A versão cefálica externa deve ser incorporada à prática obstétrica, uma vez que reduz expressivamente tanto os nascimentos não cefálicos como as taxas de cesariana. Em uma época em que muitos obstetras perderam a habilidade de conduzir adequadamente partos pélvicos, a VCE surge como uma alternativa atraente e segura para mulheres com bebês em apresentação pélvica que querem ter parto normal, mas não estão seguras ou não encontram obstetras dispostos a prestar assistência ao parto pélvico.

domingo, 15 de setembro de 2013

Apresentações do bebê

Fonte: Doula em Londrina

Apresentação dos bebês no útero
Como seu bebê está dentro da sua barriga? E como isso pode afetar seu parto? Lembrando que antes da 32ª semana mais ou menos, o bebê tem muito espaço para se movimentar dentro do útero e não é motivo para se preocupar se ele estiver em uma das posições que dificultam ou impossibilitam um parto normal. E mesmo após a 32ª semana eles podem virar e assumir uma posição favorável ao parto.
Apresentação Cefálica
A grande maioria dos bebês, mais de 90% deles ao final da gestação assumem a posição transversa ou cefálica. Eles ficam com a cabeça para baixo em direção ao canal de parto. É o ideal para o parto normal.

Apresentação Pélvica
Apresentação Cefálica, Pélvica e Transversa
Ele pode estar pélvico, sentado “em cima” do canal de parto. Existem muitos exercícios que podem ser feitos para o bebê virar. Caso ele não vire ainda há uma manobra chamada Versão Externa que pode recolocar o bebê em posição cefálica. Mas se não for feita a manobra e o médico ou parteira não forem experientes em partos pélvicos, a indicação é se fazer uma cesariana. É possível sim um bebê nascer pélvico, mas temos cada vez menos profissionais habilitados a acompanhar este tipo de parto. 
Apresentação Transversa
Ele pode estar transverso, ou “atravessado” dentro do útero. Nesta posição se não for tentado a Versão Externa ou ela não foi bem sucedida é indicação absoluta de cesariana. 

Posição do bebê
Acima os bebês Posteriores a direta e a esquerda
No meio os bebês transversos à direita e à esquerda
Abaixo os bebês Anteriores à direita e à esquerda
Ele ainda pode ser classificado pela posição que sua face está apontando dentro do útero.
Ele está Anterior quando está “olhando” para as suas costas. Então as costinhas do bebê estão ao longo da sua barriga. Se as costinhas estão mais para o lado esquerdo está “anterior esquerdo” e se as costinhas estão mais para o lado direito “anterior direito”. A posição Anterior é a que permite que o bebê saia mais facilmente pela pelve.
Ele está Posterior quando está olhando para frente da sua barriga e de costas para as suas costas. Da mesma maneira ele pode estar “Posterior Esquerdo” ou “Posterior Direito” de acordo com o lado que ele fica. Bebês posteriores nascem de parto normal, mas costumam ser partos um pouco mais demorados e doloridos.
Bebês que assumem a posição posterior podem virar anteriores até mesmo na hora do parto. Mas se permanecerem posteriores o ideal é evitar ficar deitada e assumir posições que ampliem o canal do parto, como por exemplo ficar em quatro apoios ou na posição genupeitoral. Pode-se tentar ainda manobras com o rebozzo para que o bebê consiga virar.
Também podemos classificar a posição de acordo com a parte do bebê que vai encaixar no canal do parto.
A - Fletido (posição ideal). B - Neutro ou fronte. C- Defletido
E suas proporções na pelve materna
Defletido: Quando o bebê está com a cabeça “para trás” e não fletida para a frente ele assume uma posição que faz com o que  o diâmetro maior do crânio do bebê encaixe na pelve e isso pode causar uma desproporção dependendo do tamanho da pelve da mãe. Também só é detectável durante o trabalho de parto e se o bebê não mudar de posição a indicação é uma cesariana. Ele pode também estar numa posição neutra "de fronte" com a cabeça nem fletida e nem defletida. Isso aumenta o diâmetro do crânio também. Pode-se usar o rebozzo para ajudar o bebê a fazer a flexão ou tentar as posições que ampliam o canal do parto ou se o bebê não fizer a flexão.

Face com o queixo anterior (a) e posterior (b)

Face: quando o bebê encaixa com a face no canal do parto. É também uma apresentação bastante defletida. Alguns bebês nascem nesta posição, mas dependendo de como ele encaixa, por ser a face um dos diâmetros maiores do crânio do bebê, pode causar uma desproporção céfalo-pélvica. Mesmo a pelve da mãe sendo de um tamanho ideal para o parto, a maneira como o bebê encaixou e o tamanho da pelve da mãe impede ele de descer. É bem raro acontecer e só pode ser detectado em trabalho de parto, mas se acontecer a indicação é uma cesariana.

 A -  Assinclitismo Parietal Anterior.
B - Sinclitismo (posição ideal).
C - Assinclitismo Parietal Posterior
Assinclitismo
É quando a cabeça do bebê fica inclinada para o lado direito ou esquerdo. Pode acontecer para ajudar o bebê a descer se “moldando” a pelve da mãe. Mas se for um assinclitismo severo pode causar desproporção céfalo-pélvica levando a uma cesariana.
Algumas coisas podem ser feitas para ajudar o bebê a ficar em uma boa apresentação e posição para nascer:
Evitar sentar reclinada em cadeiras ou sofás
Preferir sentar na posição de “índio” ou sempre com a barriga mais para frente
Caminhar
Fazer exercícios com a bola.
É importante se informar para saber no momento do parto o que podemos fazer para facilitar a descida do bebê e também quando uma cesariana é necessária.
O Rebozzo é uma técnica muito usada pela parteira mexicana Naoli Vinaver para ajudar o bebê a ficar em uma posição melhor para nascer. É um tecido que é usado para movimentar a pelve da mãe permitindo o bebê se mover dentro do útero. Em vários casos de mal posicionamento do bebê ele pode ser usado.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Como atender um Parto Humanizado - passo a passo

Para que as gestantes entendam o que é um parto humanizado:
Beijos

Thais Ramos


por Ana Cristina Duarte, obstetriz

Você, médico ou enfermeira obstetra, está lá de plantão no seu canto. Não aguenta mais aquele papo de quem vai pro paredão do BBB.

Chega a gestante em trabalho de parto. Vamos supor as seguintes condições:
- Fez pré natal e não há nada de anormal
- Ela está em trabalho de parto (contrações efetivas, 2 a 3 contrações em 10 minutos)

Eis o que fazer:

1) Sorria. Apresente-se com um aperto de mão, diga seu nome e sua função na instituição. Cumprimente o acompanhante. Parabenize-a pela chegada do bebê. Só faça elogios. Não faça críticas, nem piadas. Seja simpático e sorridente, sem ser 'engraçadinho'. E definitivamente essa não é a hora de julgar falta de pré natal, excesso de filhos, de peso ou de pêlos. Nada disso é da sua conta. Lembre-se que você está sendo pago por esse serviço, que aceitou voluntariamente. Lembre-se que, em última instância, são elas que pagam o nosso salário.

2) Deixe-a à vontade e o mais confortável possível, com liberdade de posição, desde essa fase de triagem. Explique que ela pode parar de responder se vier contração. Aguarde as contrações, sempre que vierem, antes de continuar o seu questionário. Pergunte o que precisa, para preencher a ficha da admissão. Ofereça uma camisola da instituição, sem obrigá-la a usar.

3) Peça que aproveite logo após o final de uma contração para se deitar em maca com encosto elevado pelo menos 45º. Diga que tentará ser o mais rápido possível. Instale a cardiotocografia de admissão, explique que é para avaliar os batimentos cardíacos do bebê. Verifique temperatura, pulso e pressão arterial. Tire termômetro e manguito de pressão tão logo termine as medidas. Peça licença para examinar a dilatação. Espere ela concordar. Seja delicado. Use gel lubrificante. Não force o colo. Não tente abrir mais do que já está. Pense em como você gostaria que um profissional examinasse internamente sua esposa, sua irmã, sua filha. Apenas avalie rapidamente, dilatação, esvaecimento, posição e altura. Diga a ela com quantos centímetros ela está de dilatação e dê parabéns, novamente. Diga que ela pode continuar o exame do coração do bebê em qualquer posição, inclusive de pé. Após os 20 minutos necessários, desligue imediatamente o aparelho e, caso esteja tudo bem, informe esse dado. Caso não esteja tudo bem, diga o que o preocupa, e informe que você já vai cuidar disso com a maior rapidez possível.

4) Supondo que ela já esteja com pelo menos 4 cm de dilatação e contrações efetivas, ou seja, na fase ativa do trabalho de parto, instale-a com o acompanhante, de preferência numa sala individual (não coletiva). Mostre onde tem banheiro, água, telefone, local para caminhar, banheiro para o acompanhante, chuveiro, bola, e tudo o que pode ser útil. Se ainda for fase inicial, explique que é complicado internar assim tão precocemente. Incentive-a a voltar pra casa por algumas horas (se for perto) ou a dar um passeio a pé, até as contrações ficarem mais fortes.

5) Não realize lavagem intestinal, nem tricotomia, nem qualquer procedimento de rotina na internação. Não ligue soro com ocitocina. Deixe o trabalho de parto evoluir normalmente. A ocitocina só deve ser utilizada em casos de distócia de progressão. Lembre-se que a ocitocina pode causar anóxia e óbito fetal. Ocitocina não é remédio pra "ajudar". Ocitocina é uma droga potentísssima e perigosa.

6) Não rompa bolsa, a não ser em caso de distócia de progressão ou de sofrimento fetal (para verificação de mecônio). Deixe que a natureza se encarregue disso. Se nada for feito, a bolsa se romperá naturalmente entre 7 e 10 cm de dilatação, ou durante o período expulsivo. Ruptura artificial da bolsa das água é o maior fator de risco para prolapso de cordão.

7) Examine apenas o necessário. Tirando a ausculta fetal, que é fundamental para sabermos a vitalidade do bebê, não  há porque ficar fazendo toques vaginais de hora em hora. Na fase ativa, podem haver intervalos de até 4 horas entre um toque e outro. Não deixe que mais de um profissional realize o toque. Peça licença. Pergunte se ela prefere que seu acompanhante permaneça ou saia durante o exame. Não assuma que você sabe como ela se sente, nunca! Sempre elogie o progresso, e como ela é forte, e como ela está lidando bem com o trabalho de parto. Se a bolsa estiver rompida, especial cuidado! O parto pode demorar quantas horas for necessário com a bolsa rompida, mas os exames de toque aumentam o risco de infecção.

8) Se for realizar cardiotocografia, não deixe o aparelho ligado por mais de 20 minutos, explique que o alarme não significa problemas, que em geral é porque houve perda do foco pelo aparelho, desligue imediatamente logo após terminado, e dê liberdade de posição durante o exame. Não é necessário que a mulher esteja deitada.

9) Incentive a mudança de posição, deambulação, banho de chuveiro e banheira, uso da bola, descanso em diferentes posições. Não é necessário seguir um circuito pré estabelecido. Explique apenas que ela não está doente e que deve confiar em seu corpo. Explique sobre a importância de não ficar numa só posição o tempo todo. Mostre técnicas de massagem para o acompanhante. Incentive o uso do chuveiro para alívio da dor. Ofereça sucos, água e alimentos.

10) Conforme chegar mais perto do expulsivo, explique os sintomas e peça ao acompanhante que chame caso um desses sintomas seja referido. Não faça dilatação manual do colo, pois esse é o maior fator de risco para laceração de trajeto. Aguarde a evolução natural. Não coloque a mulher "em posição". Dê liberdade durante o período expulsivo. Dê preferência a posições verticais, como a banqueta de parto, por exemplo. Não é necessário realizar antissepsia dos genitais.

11) Deixe a mulher fazer força conforme sente vontade, não fique guiando, gritando ordens ou pedindo que ela prenda a respiração e faça força comprida. Deixe que ela sabe o que fazer. Bebês nascidos sob manobra de Valsalva têm notas de Apgar em média menores do que os nascidos sob puxos espontâneos. Não fique colocando os dedos na vagina dela para "alargar" o canal. A vagina é tecido mole, não segura o bebê. Se for possível abaixe a luz, deixe alguma música (se ela gostar da idéia), fale baixo. Evite falar, na verdade. Faça apenas a ausculta a cada 10-15 minutos. Lembre-se que desacelerações durante a contração são normais, ainda mais no período expulsivo.

12) Dê tempo ao tempo, lembre-se que o período expulsivo de uma primigesta pode levar até 2 horas, às vezes até mais, desde que esteja havendo progresso e a ausculta esteja boa. Quando o bebê estiver coroando, convide a mulher a sentir a cabeça do bebê com a mão, e assim controlar a força e a expulsão. Proteja o períneo com uma compressa. Não empurre o fundo uterino, nem com a mão, muito menos com o cotovelo. A Manobra de Kristeler pode provocar lesão de fígado, de baço, ruptura uterina, descolamento de placenta, fratura de costela e hematomas, entre outros problemas.

13) Dê tempo para a cabeça subir e descer várias vezes, alongando o períneo. Isso evitará laceração. Não corte episiotomia, por favor. O maior risco de laceração de quarto grau ocorre quando se abre uma episiotomia. Lacerações em geral são pequenas, a maioria nem sutura necessita. Cerca de 70% das mulheres saem com períneo intacto.

14) Após a saída da cabeça, não puxe o bebê. Deixe que a próxima contração traga o resto do corpo. Isso pode levar 5 minutos. Lembre-se que o bebê está sendo oxigenado pelo cordão. O bebê pode nascer sozinho apenas com as contrações uterinas. Receba o bebê com delicadeza, enxugue-o delicadamente, sem esfregar. Sinta a pulsação do cordão, se estiver acima de 100, o bebê está bem. Ainda ligado ao cordão, coloque o bebê em contato pele a pele com a mãe e cubra-o, para prevenir a perda de calor. Não corte o cordão. Espere que ele pare de pulsar. Cerca de 1/3 do volume de sangue do bebê está no cordão e placenta. Deixe que esse sangue vá para o bebê.

15) Com a mãe ainda segurando seu bebê no colo, aguarde a placenta sem tracionar. Verifique apenas que o útero esteja contraído. Isso pode te dar a segurança que você precisa para deixar a natureza cuidar da placenta sem intervenções. Se houve fator de risco para hemorragia pós parto, aplique ocitocina intra-muscular e aguarde.

16) Se for necessário suturar, faça-o com anestesia suficiente para que a mãe não sinta dor. Se ela disser que está doendo, acredite: está doendo. A dor faz aumentar a adrenalina, diminuindo a produção de ocitocina: pior para o aleitamento, pior para a hemorragia pós parto. A amamentação na primeira hora de vida é prioridade e é a melhor forma de prevenir a hemorragia.

17) Após a primeira mamada e o cordão já cortado, pergunte se o pediatra pode examinar. Se possível o exame deve ser feito na própria sala de parto. Se não for possível, peça ao pai para acompanhar o exame. Enxugue melhor o bebê, com delicadeza. Corrija o corte do cordão, se necessário. Não aspire um bebê que respira. Pingue o colírio de escolha, de preferência abandone o nitrato de prata, menos efetivo, cáustico e doloroso. Substitua por antibiótico ocular. Deixe vacinas e vitamina K para as horas seguintes ao parto. Pese e identique o bebê. Devolva o bebê para a mãe imediatamente após o exame e diga a ela os dados relevantes.

18) Leve mãe, bebê e acompanhante para o quarto, na mesma maca, e favoreça o alojamento conjunto.

19) Da série "Um plus a mais": obstetrizes/enfermeiras obstetras para todas as mulheres; doulas voluntárias e permissão de entrada da doula contratada pela mulher, analgesia peridural para mulheres que esgotaram todas formas alternativas e não farmacológicas de controle da dor do parto; quartos com ambientação agradável; banheira para relaxamento e para o parto na água (aguarde nota sobre como atender um parto na água); uso de vácuo no lugar de fórceps sempre que possível (e necessário, claro).

20) Da série "Nunca é tarde pra lembrar": residentes e estudantes estão lá para aprender SE e QUANDO a mulher permitir. Mulheres e bebês não são cobaias. Parto não pode ter platéia. Não é humano colocar 6 estudantes observando a vagina de uma mulher. Nâo é humano colocar 6 estudantes e residentes para meter seus dedos nervosos em vaginas de mulheres com dor, assustadas e embaraçadas. Por favor, tome cuidado com a presença dos estudantes e sempre peça permissão à mulher. Sempre!

Por incrível que pareça, essas atitudes são o que chamamos de "Parto Humanizado". Para quem achava que parto humanizado envolvia o canto de mantras, a degustação da placenta e todos pelados na banheira, talvez seja uma decepção. Para quem milita pelo direito a um parto tranquilo para todas as mulheres, do SUS ou do sistema privado, é um grande alívio.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Bebê transverso/pélvico... o que fazer para virar?

Mais um texto de como ajudar o bebê virar, porém agora com mais fotinhas...

Retirado do Blog da minha querida Renata Olah..

"Muitas vezes encontro mães desesperadas, dizendo que seus bebês estão em posições diferentes da comum (de cabeça pra baixo) e que por esse motivo os médicos indicaram cesárea.
Mas temos boas notícias: tem como darmos uma mãozinha para esse bebê se posicionar direitinho!!! Antes de mais nada, se acalmar é o primeiro passo!!!
Dicas dadas por uma doula acupunturista, uma parteira bastante famosa e uma obstetra "do bem"!! "

Vamos convidar o bebê a virar??????

- Converse com seu bebê, compactue a mudança de posição e através do carinho em sua barriga, mostre o caminho e ele pode fazer. Saiba direitinho a posição do bebê e pergunte ao seu obstetra ou enfermeira qual é a melhor direção para o bebê virar para que você estimule sempre no mesmo sentido;

- Peça para que seu companheiro, amigos e parentes chamem pelo bebê ao pé da barriga, sempre com carinho;

- Se você tiver uma piscina disponível, nade e dê cambalhotas dentro da água. Com calma, suave, para as mulheres com tal habilidade;



- Faça uma sessão de moxabustão (acupuntura com calor).



- Consulte um Homeopata, também há medicamentos homeopáticos que auxiliam na mudança de apresentação do bebê (Pulsatilla);

- Faça os seguintes exercícios (20 minutos cada posição, todos os dias a cada 2 horas):



Engatinhar por 20 min ou caminhar na areia da praia
  Sempre após cada exercícios, usar uma canga, rebozo ou xale para a chacoalhar o quadril!!



- Faça uma carta para o bebê! Escreva como está sendo sua gestação, explique como ele está sendo esperando e como é importante a mudança da posição dele para ele conseguir nascer do jeito que você planejou. A carta é um modo de você aliviar tensões, ansiedade, bloqueios que podem interferir no processo de mudança de posição! Afinal, mãe mais relaxada, útero mais relaxado, e mais facilidade pra mudar de posição!

Ainda, se tiver problemas para virar o bebê safadinho, pode-se tentar a versão externa, que é o reposicionamento manual do bebê feito pelo médico. Deve ser realizado somente por profissionais bem treinados e capacitados. A OMS recomenda que se tente a versão externa das crianças antes do parto, e se isso não resolver a posição errada , a cesárea é uma recomendação aceita universalmente.
E se nem assim o bebê virar, é acalmar o coração, se conformar em saber que você fez de tudo antes de ir para uma cesárea... Há coisas que não controlamos, e a vontade do bebê é uma delas!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ajude o bebé a virar


Dedicado a Roberta e a Flávia!! 

Qual a melhor posição do bebé para um parto mais fácil? Existem exercícios específicos que o ajudam a dar a volta? E se for um bebé em apresentação pélvica? Eis a resposta a estas e outras questões sobre as várias posições do bebé no útero e de que forma podem influenciar o momento do nascimento.

1. É importante saber qual a posição do bebé antes do parto?
Sim. A posição do bebé no útero materno pode influenciar tanto o decorrer, como a duração do parto. Caso esteja numa boa posição e se mantenha assim durante o nascimento, o mais provável é que o parto decorra de forma fácil e sem problemas.

2. Então qual a melhor posição em que o bebé pode ficar?
A melhor posição é a occipito-púbica (anterior), o que quer dizer que a cabeça do bebé está a apontar para baixo, as costas estão coladas à barriga da mãe e a face está voltada para a coluna vertebral (da mãe). Esta posição permite uma passagem mais suave pelo canal de parto uma vez que a parte mais pequena da cabeça do bebé atinge o colo do útero (parte baixa do útero) em primeiro lugar. A maioria dos bebés adopta naturalmente esta posição antes do nascimento.

 
3. Quais as outras posições em que o bebé pode estar?
O bebé pode ficar na posição occipito-sagrada posterior (quando a parte detrás da cabeça e as costas ficam junto à sua coluna vertebral), na posição transversal (quando se posiciona ao longo da pélvis com a cabeça de um lado e as nádegas do outro) e em apresentação pélvica (longitudinalmente no útero, com as nádegas ou os pés junto do canal de parto).

Posição occipito-sagrada posterior

Posição occipito-sagrada posterior

4. Como posso ajudar o meu bebé a adoptar a posição mais adequada?
Existem alguns exercícios, desenvolvidos pela parteira neozelandesa Jean Sutton, denominados OFP (‘optimal fetal positioning’). O truque passa por se manter activa durante a gravidez, o que influencia o bebé a adoptar a posição mais correcta no útero. Também é importante que passe algum tempo por dia na «posição de quatro» (quatro apoios, dois joelhos e duas mãos no chão) e que rode as ancas.



5. Existem provas que a OFP resulta?
Não existem muitos estudos sobre a eficácia da OFP. No entanto, um artigo publicado pela base de dados Cochrane (organização independente e sem fins lucrativos que disponibiliza informação sobre saúde) revelou que passar dez minutos por dia com as mãos e os joelhos no chão pouco influenciava a posição do bebé. Outro estudo revelou que, quando os bebés estão na posição occipital posterior durante o parto, se a mãe passar pelo menos 30 minutos ‘de quatro’, ao fim de uma hora o dobro dos bebés adoptam a posição occipital anterior. Quando Jean Sutton foi promovida a chefe de parteiras numa maternidade da Nova Zelândia, graças aos seus exercícios conseguiu que a taxa de partos com a ajuda de fórceps descesse de três a quatro por mês para dois a quatro por cento ao ano.

6. Qual é o problema da posição costas-contra-costas?
O trabalho de parto pode ser mais demorado e desconfortável caso o bebé esteja na posição occipital posterior e a grávida pode ter mais dores nas costas, uma vez que a cabeça do bebé está a fazer pressão na sua coluna vertebral. Ele vai ter de rodar 180 graus antes de nascer e pode ser doloroso. As contracções vão ser a dobrar para dilatar o colo e de forma a posicionar o feto. Caso o bebé não vire, pode ser necessária a intervenção de fórceps ou ventosa para o ajudar a nascer.

7. E se o bebé não der a volta?
Nos casos em que o bebé está em posição transversal ou em apresentação pélvica, os médicos optam pela cesariana para evitar complicações para a mãe e para a criança. É uma das poucas situações para as quais a cesariana está indicada.

8. Se não é habitual, por que razão o meu bebé está nesta posição?
Segundo Jean Sutton, assistiu-se nas últimas décadas a um aumento significativo de bebés na posição occipital posterior. Tal pode ser explicado pelo estilo de vida sedentário das mães. Permanecer muito tempo sentada pode fazer com que o bebé se posicione contra a sua coluna devido aos movimentos da pélvis. Ao contrário, se permanecer activa e de pé, tal irá aumentar as hipóteses do bebé adoptar a posição occipital anterior.

9. Será que a cabeça do bebé não vai ‘encaixar’ se estiver na posição posterior?
Os bebés em posição occipital posterior têm menos probabilidade de se posicionarem correctamente antes de começar o trabalho de parto. No entanto, de acordo com as recomendações do Instituto (britânico) Nacional para a Saúde e Excelência Clínica (NICE) este não é um problema. «Quando o trabalho de parto começa, a cabeça molda-se um pouco e a pélvis cede perante as contracções uterinas. A combinação destes factores facilita o processo».

10. Em qual das etapas da gravidez o bebé começa adoptar a melhor posição para nascer?
O bebé começa a mover-se desde o início da gravidez e muda de posição à medida que vai crescendo. No final da gestação, com o espaço reduzido ao mínimo, vai descer até à pélvis e adapta-se à posição em que irá nascer. Isto acontece por volta das 35 semanas.

11. O que posso fazer para encorajá-lo a ficar na posição correcta?
Adoptar o hábito de ver televisão ajoelhada no chão, não cruzar as pernas (uma vez que diminui o espaço na parte da frente da pélvis) e manter-se activa durante a gravidez pode ajudar o bebé a adoptar uma posição correcta.

12. Será que há problema se dormir de costas?
Os especialistas não aconselham as futuras mães a dormir de costas, especialmente nos últimos meses de gravidez, devido à pressão que é colocada no útero, o que restringe o fluxo sanguíneo.

13. O que posso fazer se o meu bebé já estiver na posição posterior?
Exercite as ancas quando estiver ajoelhada duas ou três vezes por dia, cinco minutos de cada vez. Yates, professora de Shiatsu, recomenda gatinhar porque, além de encorajar a posição occipital anterior (OFP), é um bom exercício para os músculos abdominais e das costas. Além de gatinhar para a frente e para trás, sugere que se espreguice como um gato. «Pela minha experiência, se a mulher adoptar a posição de quatro desde o início da gravidez e se trabalhar estes exercícios, se o bebé estiver na posição posterior dará a volta em 99 por cento dos casos». Yates recomenda ainda às mães com bebés transversais para adoptarem estas posições e, assegura que na maioria dos casos o bebé muda de posição.

14. E se nada disso resultar?
Tente não se preocupar. Alguns bebés estão determinados a ficar numa certa posição. No entanto, lembre-se que a maioria dá a volta durante o parto.

15. Estou com 32 semanas e, neste momento, o meu bebé está pélvico. É um problema?
Cerca de 15 por cento dos bebés são pélvicos (com os pés ou as nádegas junto ao canal de parto) às 32 semanas. A maioria irá dar a volta nas próximas quatro semanas, com apenas três ou quatro por cento a permanecerem na posição pélvica à medida que o nascimento se aproxima. Se o bebé não der a volta às 36 semanas, poderá ter de marcar uma consulta de forma a discutir as várias opções do nascimento.

16. Quais as opções de parto mais prováveis?
Se o bebé não tiver dado a volta às 37 semanas, o obstetra pode tentar uma técnica denominada Versão Externa. Realizada em meio hospitalar, sob monitorização fetal contínua (CTG), um obstetra experiente administra um relaxante muscular uterino, no sentido de facilitar a manobra, coloca as mãos na sua barriga e empurra de forma firme para tentar guiar o bebé a dar a volta. Não é doloroso, mas pode ser desconfortável e resulta em 50 a 70 por cento dos casos. Se o bebé não mudar de apresentação, pode ser sugerida uma cesariana.

17. Será que há algo que possa fazer para ajudar o bebé a dar a volta?
Algumas pesquisas sugerem que o acto de levar os joelhos ao queixo pode ajudar a deslocar o peso do feto, remodelar o útero e relaxar a parede uterina de forma a criar condições para que o bebé dê a volta.

18. Como posso fazer isso?
«Pode tentar colocar-se com as mãos e os joelhos no chão, relaxar os cotovelos e apoiar os antebraços no chão, de forma que o rabo fique mais elevado», ensina Yates. «Este exercício cria mais espaço e liberta o peso do bebé da parte inferior das costas. É importante verificar que as costas não fiquem arqueadas». A posição é mais eficaz se praticada quando o bebé estiver activo. Experimente esta posição duas a três vezes por dia. Muitas futuras mães descobrem que tem efeitos positivos nos bebés pélvicos.

19. A posição do bebé pode mudar durante o parto?
Um bebé em posição occipital posterior pode mudar para anterior durante o parto e vice-versa. Contudo, os bebés pélvicos e transversais não mudam de posição assim que o parto tem início.

20. Então se o meu bebé estiver numa boa posição para nascer, pode não ficar assim durante o parto?
Possivelmente não. Algumas pesquisas mostraram que, dos bebés que estão na posição occipital posterior durante o parto, dois terços estavam na posição anterior quando o parto começou. Contudo, cerca de 87 por cento dos bebés rodaram para occipital anterior na altura do nascimento.

21. O que posso fazer para ajudar o bebé a rodar durante o parto?
Pratique movimentos que ajudem o bebé a encontrar espaço para rodar e posicionar-se na pélvis. Assim, quando começar o trabalho de parto, suba e desça escadas, rode as ancas e ande no mesmo local. Na segunda fase, evite estar deitada de costas, semi-reclinada ou sentada.

22. Quais as melhores posições à medida que o trabalho de parto decorre?
O facto de estar de pé auxilia a aumentar o diâmetro pélvico. Tente levantar-se e andar, o que também pode ajudar a diminuir o tempo do parto. «Mantenha-se activa» diz Yates «e inclua a posição de «gatas» no trabalho de parto».

23. Sinto-me exausta. Posso deitar-me um pouco?
Deitar-se de costas pode atrasar o trabalho de parto uma vez que impede o aumento do diâmetro da pélvis. Se estiver muito cansada deite-se um pouco sobre o lado esquerdo. As contracções mantêm-se e o bebé vai receber mais oxigénio.

24. Qual a melhor posição se sofrer de dor nas costas?
Pode ser um sinal que o bebé está na posição occipital posterior, por isso é preferível uma posição que retire o peso do bebé da sua coluna. A melhor forma é colocar-se na posição de quatro, com almofadas debaixo das mãos e dos joelhos.

25. Quero fazer força, mas dizem-me que ainda não estou preparada. Qual a posição que devo adoptar?
Não vai poder fazer força enquanto o colo não estiver totalmente dilatado. Tente a posição «de gatas» com os joelhos contra o peito e rabo para o ar. Pode parecer pouco ortodoxo, mas vai diminuir o desejo de fazer força.

26. Quando chegar a parte de fazer força, qual a melhor posição?
As posições mais eficazes são de cócoras, ajoelhada ou de quatro, uma vez que possibilitam suportar todo o processo com maior conforto.

27. Vou ter de ser super desinibida para me colocar nestas posições todas durante o parto, especialmente com o meu marido ao lado!
Não tem de se sentir obrigada a ter o seu marido ao lado se isso a inibe. Tente ter alguém que lhe dê força, em quem confie e que não se importe que a veja em qualquer posição. Assim vai conseguir relaxar.

Fonte: Revista Pais&Filhos