O que é a episiotomia? A episiotomia é um procedimento cirúrgico que visa ampliar a abertura da região vulvoperineal no momento do desprendimento da cabeça do bebê. Este procedimento consiste em realizar uma incisão sobre o períneo a partir da fúrcula vaginal. Esta incisão abrange a pele, mucosa vaginal, aponeurose superficial do períneo e as fibras dos músculos bulbocavernoso e do transverso superficial do períneo e às vezes fibras internas do músculo elevador do ânus. Para que foi proposta? Em 1910, quando foi proposta por Michaelis, acreditava-se que poderia diminuir os danos que o parto vaginal provocaria no assoalho pélvico. Quais são as novidades? Desde a década de 80 são realizados estudos que mostram que a episiotomia, ao contrário do que se imaginava, aumentava a incidência do trauma perineal e não o protegia. Os estudos mostraram que a episiotomia mediana está associada com alto índice de laceração de terceiro e quarto graus (ruptura de esfíncter retal e reto) o que pode levar a incontinência fecal. A episiotomia mediolateral está associada à maior incidência de dispareunia (dor ao coito) e dor perineal. Além disso, ela não diminui a incidência de incontinência urinária, de queda da bexiga ou do intestino nem consegue manter a força muscular do assoalho pélvico. A episiotomia consegue diminuir a incidência de lacerações de 1º e 2º graus e de lacerações periuretrais, porém os estudos mostraram que as mulheres que tiveram lacerações espontâneas têm menor índice de complicações em relação às mulheres episiotomizadas, e em alguns casos estas lacerações nem necessitam de sutura, pois são muito superficiais. Quais são os motivos para que ela continue sendo praticada? Talvez o real motivo de a episiotomia continuar sendo praticada rotineiramente seja uma fantasia relacionada à sexualidade. No momento do parto a passagem do bebê distende o colo do útero, a vagina e, por último, o períneo. Quando se faz a episiotomia, o períneo não é tão distendido, ele não precisa dilatar para a passagem do bebê, o que leva a uma falsa idéia de que assim pouparíamos a vagina inteira de uma distensão que jamais se recuperaria. Existe a ilusão de que a vagina ficará aberta e frouxa para sempre e será incapaz de proporcionar prazer ao homem e à própria mulher. A episiotomia seria capaz de devolver a mulher à condição virginal, pois quando é suturada se realiza o “ponto do marido” que consiste em um ponto que aproxima alguns músculos do assoalho pélvico e faz com que a vagina fique mais fechada do que era antes do nascimento da criança. Os órgãos genitais conseguem voltar a sua forma original? Na realidade o colo do útero se abre de zero para dez centímetros para a passagem do bebê e em poucos dias após o parto volta à sua forma original. O próprio corpo do útero que aumentou de tamanho para poder alojar o bebê durante a gestação em poucos dias volta a ficar do tamanho de uma pêra. A vagina e o períneo se distendem para a passagem do bebê, mas retornam imediatamente às suas formas anteriores. A força muscular, o grau de elasticidade e o calibre da vagina se modificam após um parto, lembrando que a episiotomia não impede que estas alterações aconteçam. A intensidade destas alterações depende do tipo de tecido conjuntivo de cada mulher e do preparo da musculatura com exercícios vaginais prévios e posteriores ao parto. Como podemos ajudar na recuperação do corpo e dos órgãos sexuais após o parto? Imediatamente após o parto, temos muitas alterações físicas, o abdome permanece proeminente e flácido, existem alguns excessos de gordura por toda parte, mas a recuperação física depende imensamente dos cuidados que a puérpera tem com seu corpo. Aquelas que fazem exercícios e se alimentam adequadamente se recuperam rapidamente e muitas vezes não ficam com nenhuma alteração física ou estética decorrentes da gestação. O mesmo pode se esperar da vagina e do períneo: se a mulher realizar exercícios e massagens perineais pré e pós-parto terá uma recuperação melhor. Algumas mulheres podem ficar com uma pequena alteração no calibre da vagina, mas isto não traz nenhuma implicação para sua saúde e muito menos para sua vida sexual. Qual a verdadeira relação entre calibre vaginal e prazer sexual? Acreditar que o prazer sexual depende do calibre da vagina é equivalente a acreditar que o prazer dependa do tamanho do pênis, ou seja, significa crer que o prazer sexual provém do atrito entre os órgãos genitais masculinos e femininos e nada mais. Sabemos que isto não é verdade, pois, durante um ato sexual prazeroso para o casal existe uma lubrificação intensa e a fricção mal pode ser sentida. O prazer sexual depende da libido (desejo sexual), e esta depende de uma infinidade de fatores emocionais e circunstanciais. Portanto, a episiotomia, mesmo que mantivesse a vagina com um calibre menor, jamais poderia garantir sucesso sexual a um casal. Quando a episiotomia deve ser realizada? A indicação da episiotomia é um tópico controverso, pois sua indicação depende de observações subjetivas e algumas objetivas. A indicação mais objetiva é o sofrimento fetal no período expulsivo, neste caso a episiotomia abrevia o tempo para a saída do bebê trazendo benefícios para sua vitalidade. Fetos muito grandes estão associados a maior incidência de lacerações importantes, neste caso a episiotomia pode ser preventiva, mas algumas mulheres com fetos grandes e períneos elásticos e preparados com exercícios e massagens perineais podem não apresentar lacerações, portanto aí vem a subjetividade. Outra indicação é a iminência de ruptura no períneo resistente. A aplicação de fórceps deve ser acompanhada de episiotomia, pois este instrumento faz com que a cabeça do bebê saia muito rápido além de se somar ao tamanho da cabeça do bebê tornando este volume muito grande, o que em muitos casos pode provocar lacerações vaginais importantes. Por:
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Episiotomia: necessidade ou fantasia?
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